quarta-feira, 10 de junho de 2009

Dia dos Açores

A celebração, neste ano, foi vivida em Toronto – e muito bem – com honra e orgulho de todos os açorianos, independentemente do país onde residem.
Teve um simbolismo especial esta comemoração que uniu Açores e as nossas Comunidades emigradas no Canadá e no Mundo. Também elas são Açores, os Açores que se constroem além fronteiras, parte da Região Autónoma enquanto presença com uma identidade cultural própria.
Esta aproximação entre todos os açorianos tem sido um objectivo constante e assumido desde a primeira hora pelos governos liderados pelo Presidente Carlos César e também pela Assembleia Legislativa.
As comunidades responderam sempre a este desígnio de forma activa e emotiva, generosamente, com sentido de pertença, com grande respeito e com muito trabalho.
Esse trabalho revestiu ao longo dos anos as mais variadas formas e diferentes objectivos: festas do Espírito Santo, estudos sobre a preservação da identidade cultural, criação e participação em filarmónicas, associações culturais ou sociais, grupos folclóricos, grupos corais, grupos ou iniciativas individuais de criação artística com base nestas ilhas, workshops, simpósios, colóquios, encontros académicos, festas populares, enfim… a lista é tão grande, que não caberia aqui! Diferentes objectivos conduziram os líderes comunitários, porém todos eles convergentes com a elevação da imagem da nossa terra, o bom nome do povo açoriano, a ajuda à construção dos Açores.

Nem todos quantos trabalharam com tão nobres objectivos podem ser reconhecidos. Mas esta celebração do dia dos Açores no Canadá, na Província onde se concentram mais açorianos em todo o mundo – Ontário –, é uma homenagem aos que receberam por mérito próprio as insígnias desta Região Autónoma mas também um reconhecimento grato a quantos emigraram, a quantos se fizeram à estrada do sonho, a quantos tiveram a coragem de partir e ajudar os que ficaram, a quantos continuam a dar o melhor que têm e sabem para sentir e divulgar as ilhas nas sociedades de acolhimento. Estamos gratos aos verdadeiros arautos e embaixadores dos Açores!
Esse reconhecimento, sendo um dever desta Região, é um dever de todos nós. É um gesto de aproximação que devemos a todos os que há 56 anos – para só falar nos anos de emigração institucionalmente admitida e para só falar no Canadá, já que foi naquele país que a celebração teve lugar – se aproximam de nós, da terra que continua a ser sua, que estimulam nos seus filhos e netos o interesse pela nossa cultura, pela nossa idiossincrasia, a afeição pela nossa paisagem, o apreço pelas nossas instituições.
Não se pense, porém, que a transmissão cultural é imutável, que os jovens absorvem uma massa cultural homogénea e que a ela darão continuidade; pelo contrário, os elementos recebidos são extraordinariamente diversos e localizados. Na maioria dos casos esta localização é geográfica. Mas ela é susceptível de se revestir, como diz Jean-Pierre Warnier, de uma dimensão mais social que espacial no caso das comunidades dispersas através do mundo, conhecidas como diásporas.
Foi o que aconteceu com os nossos movimentos emigratórios que consubstanciaram a denominada diáspora açoriana. A sua dimensão transmutou-se e hoje é um fenómeno predominantemente social, já que até a própria noção do espaço açoriano que foi levada por essa diáspora era puramente local e assim se manteve nas primeiras gerações até aos nossos dias. O isolamento ilhéu da época devido à precaridade dos transportes e à ausência de necessidade de viajar entre as ilhas, a inexistência de televisão que, por sua vez, impossibilitava, em conjunto com as razões anteriores, o conhecimento dessa dimensão regional politicamente cultivada apenas após o estabelecimento dos órgãos de governo próprio da Região Autónoma dos Açores, o atraso estrutural do arquipélago nos domínios económico e cultural (o analfabetismo atingia índices superiores à metade da população) foram factores que comandaram a referida localização do conceito de espaço açoriano.
Os indivíduos que partiram levaram, neste contexto dos meados do século XX, uma cultura eminentemente popular, de práticas a nível de freguesia ou de concelho ou seja, uma cultura de grupo que, transportada para outra sociedade e transmitida noutro tempo e noutro espaço, foi reinterpretada por cada indivíduo, em função da sua vivência pessoal.
Apesar desta reinterpretação individual com aculturações várias persiste também uma inserção no grupo de pertença, por vezes mesmo uma ramificação mais forte e mais consistente do que a própria árvore de origem, exactamente pelas condições de insularização que assume longe das ilhas, numa tentativa de preservar, intacta, a cultura de origem.
Como escreveu Vitorino Nemésio: “como homens, estamos soldados historicamente ao povo de onde viemos e enraizados pelo habitat a uns montes de lava que soltam da própria entranha uma substância que nos penetra.

Sem comentários: